O jacarandá é uma árvore típica da região sul. Tem duas aqui na frente de casa e várias no bairro. As flores são roxas e enchem a calçada ao final da primavera. Os frutos lenhosos, tipo uma casquinha semicircular, aparecem no outono.
Eu gosto do nome e fui pesquisar um pouquinho sobre a origem.
Etimologia é o nome do estudo da origem das palavras. É interessante como as línguas evoluem e se ramificaram ao longo do tempo. O estudo da origem e história das línguas é parecido com o estudo da origem dos organismos – a evolução biológica. Elas formam uma intrincada árvore de relação e parentesco ao longo do tempo. E como a língua é algo que nos pertence e diferencia como espécie, milhares de línguas existiram ao redor do globo durante nossa história. Cada língua traz um legado e uma forma de descrever e interpretar o mundo.
Quando aprendemos e adquirimos fluência em uma segunda língua, acabamos dando uma dimensão diferente para nossa própria língua nativa, e arrisco a dizer que até a compreendemos mais – ou a valorizamos mais.
Segundo minha pesquisa, Jacarandá vem do Tupi: yakara'na. Sem muita confiança da fonte, talvez signifique “o que tem o cerne duro”. De fato essa é uma característica da árvore, onde a madeira inclusive possui certo valor comercial.
Tupi é uma língua brasileira, dos povos originários da América do Sul. Ela tem uma característica aglutinativa: palavras complexas são formadas pela aglutinação de outras. Veja que interessante esse exemplo: arasy = ara + sy (dia + mãe) = mãe do dia, que significa “sol”. Outro aspecto dessa língua é a ordem dos elementos na oração. No português ou inglês usamos: sujeito – verbo – objeto, “Eu escrevo o texto” (I write a text). No Tupi, a ordem entre objeto e verbo é invertida: sujeito – objeto – verbo, “Eu o texto escrevo”. O mestre Yoda de “Guerra nas estrelas” geralmente fala com o verbo no final, apesar de que o sujeito e o objeto mudam. Tal estrutura parece dar mais ênfase ao verbo, que é a ação da oração e provavelmente sua parte mais importante – talvez tal formulação acabe até soando mais profunda e sábia, como pretendido pelo mestre da ficção científica criado por George Lucas.
Muitas palavras do nosso Português brasileiro derivam do Tupi, especialmente cidades e animais nativos: Abacaxi (“fruta com espinhos”), Iguaçu (“o grande rio”), Pacaembu (“vale das pacas”), entre tantos outros.
A proibição da língua veio pelo primeiro ministro português, Marquês do Pombal, no Brasil colônia em 1759. Talvez se tal medida drástica não fosse tomada poderíamos ser um país bilíngue.
Hoje em dia apenas algumas tribos da Amazônia ainda utilizam uma forma descendente da língua, o Nheengatu, que resiste a completa extinção.
Chego ao fim de minha aventura sobre as línguas, em especial uma de nossas línguas dos povos originários e seu legado sufocado pela história.
Assim como podemos extinguir organismos, diminuindo os ramos da árvore da vida, também podemos acabar com ramos culturais e suas diferentes linguagens, transformando um grande Jacarandá num pequeno arbusto.
Que possamos regar e cultivar o que sobrou.
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