Alguns anos atrás assisti a um show do Raul Midón. Fiquei surpreso e feliz em ver que ele veio para o Brasil tocar no Rock in Rio junto com a Suricato.

Eu lembro que há um tempinho atrás não conhecia o Raul. Ele ia tocar no pequeno auditório de música da universidade. Procurei uns vídeos na internet, gostei, convidei uma guria bonita para ir comigo (ela não quis) e fui - sozinho mesmo. Caminhei uns 15 minutos de onde eu morava e paguei os 10 dólares de ingresso.

O show me marcou, tanto que estou escrevendo sobre ele agora. A música às vezes nos pega desprevenidos.

O show foi intimista. Só ele no palco. É interessante que ele tem uma técnica diferente de tocar violão – ele bate com a palma da mão e usa os dedos como se fosse tocando flamenco. A voz é larga, um pouco do clássico black soul Americano. Ele toca trompete com a boca (sem ter o trompete) e bate no bongô ao mesmo tempo em que faz ritmo nas cordas. Havia pouca gente naquela noite, imagino umas 40-50 pessoas, todas rendidas ao talento de Raul. Eu li uma critica de algum músico falando dele. A crítica dizia que ele era um dos poucos casos em que a música parecia ir de encontro com o homem. Eu concordo com ele. Naquele show parecia que Raul não era gente, era música. É um pouco do que tento, com todas as minhas limitações, quando faço música – ser a música. Raul é cego. Daí já surgem teorias de que músicos cegos poderiam ter uma percepção mais apurada. Eu não sei. A gente é um bicho tão visual – os primatas. Os cegos provavelmente desenvolvem mais os outros sentidos procurando meios de comunicação com o mundo através da experiência e aprendizado.

Pelo jeito ele lançou um disco no ano passado, ouvi no youtube, parece um pouco mais pop e com algumas parcerias. Talvez ele esteja tentando se projetar um pouco mais. Tomara que mais gente ouça o som dele.

Se ele vier a Porto Alegre algum dia com certeza tentarei ir de novo.

- se vocês verem a entrevista da Suricato depois do show no Rock in Rio, eles tem a mesma impressão (link aqui). Dizem que parece ser um sujeito elevado. -

(Foto do topo por Steve Jurvetson from Menlo Park, USA - Ode to Google, CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1900308)