7:52 da noite. Estou em uma das mais bonitas trilhas da ilha de Oahu, Manoa Cliff. A trilha transpassa a borda da montanha, dando uma vista espetacular para o outro lado. As montanhas, o vale, a cidade no fundo e o mar no horizonte.
Estou acampado, vim coletar minhas mariposas. A noite não está boa: muito vento e a área é muito aberta. Acho que não vou ver nem mosquito.
Resolvi escrever.
Minha cabeça não queria pensar em nada sério, mas decidi que deveria ser algo relevante para o futuro e progresso da humanidade.
A pergunta surgiu: por que os intelectuais (ou metidos) não fazem a barba? Qual seria a explicação racional de uma tomada de decisão quase inconsciente de alguém que opta por não se barbear? Alguns minutos do dia, ferramentas e produtos químicos: é só o que o indivíduo precisa.
Antes de forjar uma teoria e ir em busca de uma resposta pelo menos interessante, tenho que tentar embasar minha hipótese de que intelectuais realmente não fazem a barba.
Começo pelos gregos. Todos com mais cabelo no rosto que um chimpanzé desavisado. Platão, Aristóteles, Epicuro. Homo peludos.
O pai da minha disciplina; alguns mais efusivos dizem que foi o maior teórico de todos os tempo: Charles Darwin. Sem dúvida, o papai Noel da Inglaterra. Seria facilmente reconhecido pelas crianças nos shoppings atuais.
Leonardo da Vinci, o gênio das artes e da ciência, e uma barba de medir com fita métrica.
Mas tenho alguns revés muito importantes. Descartes, o rei da abstração, atribuído por muitos como o fundador da ciência moderna, tinha a cara quase limpa. O rigoroso Immanuel Kant: rosto liso e cabelo lambido. Einsten tinha um bigodão e, ao que parece, cultivado com muito apreço (apesar de que considero físicos uma espécie a parte; idiosincrática por natureza). Enfim, ainda que com alguns tropeços, acho que muitos concordariam que muitos barbudos pretendiam ter a cabeça grande. (começou a chover aqui - e forte - ainda não chegou nenhum inseto e eu estou escrevendo sobre barba).
Agora a parte delicada: por quê? Qual é o problema em fazer a barba?
Queriam eles voltar às raízes do homem das cavernas para imergir na mais profunda e primitiva introspecção?
Queriam eles serem desprezados pelas senhoras da alta sociedade em um protesto à importância do saber?
Queriam eles demonstrar que a barba traz peso e sofisticação, como se cada pêlo indicasse uma nova e surpreendente ligação neurológica?
Não sei. Tenho minhas dúvidas.
Talvez o ato de fazer a barba trouxesse algum fardo, complicado e injustificável. Talvez eles quisessem exercer a intrínseca liberdade da mente. E a liberdade da barba.
E se levarmos em consideração alguns dos possíveis hábitos desses pensadores. O que muito deles fariam: pensar – acho eu. Definitivamente fazer a barba não permite muito pensamento. No banheiro isso se faz no banho ou talvez naquela outra necessidade. Ou no quarto, antes de dormir. Depois de um café. Antes do almoço. Mas não fazendo a barba. Tal atividade requer exclusividade. Ninguém quer cortar a sobrancelha ou se auto-mutilar. Penso que sair de casa retalhado pode ser ainda pior do que barbudo.
Enfim, não fiquei muito satisfeito com meus argumentos, mas talvez alguém possa me ajudar a desvendar este mistério tão intrincado.
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